A pior forma de morrer

É difícil efetivamente ter o controle da sua vida. Você já parou pra pensar o que lhe controla, o que lhe move, o que lhe prende no lugar que você está? Já parou pra pensar se é sua família, seu emprego, seus bens, seus amigos?
Já parou pra pensar o por que de você estar fazendo tudo isso que você faz, se é pelo futuro, pelo presente ou pelo passado que não volta mais e que não pode ser mudado?
São perguntas profundas, mas que precisam de boas explicações, por que no que depender das explicações você pode estar vivendo ou morrendo, aos poucos.
Quando eu era criança eu pensava “qual a pior forma de morrer?”, depois de muito pensar cheguei à conclusão de que seria queimado, visto que uma simples queimadura dói muito, então imagina o corpo todo doendo – e realmente os queimados nos hospitais sofrem muito, é bastante doloroso ser queimado. Na pior hipótese morrer queimado custa alguns minutos de dor intensa e depois vem a morte que lhe liberta de todas as dores possíveis. Agora, e uma vida de dor, de desesperança, de melancolia, de arrependimentos, de baixa estima, de pobreza, de lembranças de coisas no passado que você deixou de fazer ou fez mal feito?
Uma vida inteira pra se arrepender de dezenas de decisões erradas, sabidamente erradas desde o começo, de prazeres fúteis, de alegrias incompletas, de risos fáceis mas sem sentido, vazios e sem valor? Não que eu seja o bom samaritano. Não que eu saiba dar lição de moral do alto dos meus mais de 30 anos, muito longe disso, eu sinto que ainda estou começando a entender um pouco do mundo e da vida, e também da forma como poderemos viver a vida.
Eu olho pra trás, por apenas cinco anos e vejo como eles passaram rápido – extremamente rápido, apesar de serem dias cheios, finais de semana ocupados com trabalho, trabalho e mais trabalho, muita leitura, poucas viagens, algumas (muitas) renúncias à viagens de feriado, férias, casamentos de amigos, mais momentos com a família, mais tempo para namorar, paquerar, sair pra fazer a social nas baladas, ainda mais nessa idade de 25-30 anos, mesmo estando solteiro e com o mundo inteiro a explorar.
De tudo que eu fiz tenho muito pouco arrependimento, o preço que paguei, eu diria que já se pagou, pois tudo tem retorno, se eu fosse um inconsequente não poderia me atrever a escrever algo aqui. De qualquer forma você vai pagar um preço pelas suas escolhas diárias, daqui a cinco, dez ou vinte anos vai chegar uma fatura para você que pode ser negativa ou positiva, crédito ou débito, alegria ou tristeza, chame como quiser, mas pelo menos não se engane.
Se você é jovem e conhece as escolhas certas por que não as tomar agora? O que o impede? Você acha que a vida vai lhe dar tantas chances assim? Hoje em dia eu sei que não, algumas coisas já me foram retiradas e nunca mais irão voltar, chega uma hora na vida que você tem que decidir-se se vai dedicar-se ou não a um projeto, um namoro, um concurso público, um emprego no exterior, uma mudança de cidade ou de país, e você um dia vai perceber que todo o restante da sua vida dependeu disso – é o famoso efeito borboleta.
Para responder ao título do post (eu sempre enrolo um pouquinho) – eu descobri essa resposta, não é queimado e nem afogado, é aos poucos. Sim. A pior forma de morrer é aos poucos. Você pode morrer aos poucos aos 60 anos, aos 70 anos, aos 80 anos, mas a verdade é essa, é o que eu vejo, o que eu percebo e o que eu escuto principalmente devido à minha profissão e por trabalhar na área da saúde.
A verdade é essa meus amigos, as pessoas se matam aos poucos, mesmo sem querer ou saber, a maioria das pessoas está se lixando para dietas, exercícios físicos, cuidar de suas doenças crônicas, cuidar melhor de suas famílias, das suas relações com seus amigos, estão se lixando para os efeitos nocivos de drogas, álcool, cigarro, gastos excessivos, falta de aportes para aposentadorias futuras, contração de dívidas para pagar coisas caras, tudo, está tudo interligado.
São vidas bem vazias, mesmo. As pessoas simplesmente abandonam a vida ainda em vida, é um tipo de suicídio lento – não suicídio, mas é uma desistência da vida, um tipo de desistência, mas é um tipo. Suicidar-se é um ato rápido para acabar com toda a dor e a desesperança, na verdade o suicídio de fato tem muitas variáveis mas não é sobre isso que quero falar.
Eu quero falar especificamente sobre o fato de desperdiçar a vida em vida e vivendo e sobre as implicações que tudo isso causa. Eu já fui quebrado, mas fui quebrado e com esperança de melhorar um dia, não um sonho tolo mas um pequeno sentimento de que poderia dar certo um dia, e aqui estou, pequenas centenas de decisões que culminaram nisso, ainda sou basicamente o mesmo, com mais esperança no futuro e com mais conforto material (um pouco) e com mais conforto psicológico (não sou religioso nem nada).
O que eu quero falar, nesses tempos grotescos de desesperança, crise, Brasil acabando, mundo acabando, economia ruindo, desemprego e inflação e blábláblá é que você pode vencer individualmente, sim, você pode triunfar verdadeiramente nesse mar de lama que é o mundo, ou o Brasil e sua cidade, e pode viver bem melhor ou se mudar um dia para um lugar melhor ou o exterior (por que não?).
Você não precisa engolir o amargor azedo da desesperança, não precisa viver bebendo em bar todo final de semana com fracassados, não precisa compartilhar sua tristeza com sua mulher e seus filhos os fazendo sofrer com pobreza, álcool ou uma vida indigna, acho que até traição – quando as coisas não vão bem o ser humano consegue a proeza de realizar pequenas pioras e isso se torna uma espiral, quer um exemplo, você gasta muito, ganha bem, tem uma mulher e dois filhos, fica desempregado, começa a beber, sai sozinho pra uma festa, fica com qualquer uma, transa sem camisinha, engravida ela (que já pegou seu telefone e seu facebook), volta pra casa, passa a doença pra sua mulher, um mês depois a grávida da festa manda uma carta da justiça pra sua casa, você sai pra beber, começa a usar drogas, vende seu carro, sua mulher se separa, descobre a doença dela, você fica quebrado, compra uma moto, anda bêbado de moto, causa uma colisão no trânsito, fica internado num hospital público, a perna fica podre, você amputa, agora é um divorciado pobre, desempregado e sem perna e com dívidas de drogas.
Eu aumentei bastante o exemplo, infelizmente é um exemplo que com suas variações é a realidade. Precisamos de vidas plenas, vidas com significado para viver, algo com que valha a pena fazer você se levantar da cama todo dia e ir à luta.
Eu vejo pessoas com vidas vazias todos os dias, eu vejo pessoas sem o controle de suas vidas todos os dias, eu escuto histórias vazias de pessoas que vivem muito além do automático, pois o mundo real é foda, o mundo real é uma mulher na quinta gravidez e nem sabe o por que e nem pediu pra fazer uma laqueadura mesmo, e não está nem aí, já tem quatro filhos em casa e vai chegar com mais um, tanto faz como tanto fez, mais um ou menos um, a pessoa já perdeu o brilho no olhar.
Tenho amigos que já perderam esse “brilho no olhar” são novos mas não estão nem aí, estão engordando, bebendo mais do que deveriam, estagnados nos empregos, sem objetivos na vida, sem um futuro pra sonhar lá na frente, sem sonhos mais, fingindo às vezes que está tudo bem, postando fotos em churrascos nas praias… Mas eu como sou amigo, aprofundo um pouco mais a conversa e o castelo de cartas cai, o casamento não vai bem, não se acham bons pais, traem as esposas com mulheres muito piores do que elas e de baixo nível, não tem um colchão financeiro e nem de segurança patrimonial nem pessoal. É uma vida realmente louca e vazia e triste.
Não sei como algumas pessoas fazem para se colocar nessa situação. Eu não posso falar apenas pra ela se conscientizar. Acredito que tudo isso tem raízes profundas. É basicamente uma falta tamanha de autoestima que a pessoa se entrega pra vida, se joga no piloto automático pro que der e vier e não planeja mais nada.
O bom de estudar investimentos e (se você já chegou até aqui) é que você se preocupa com o mínimo, com pelo menos ter um suporte na vida pra se apoiar (uma reserva financeira de fato) em ativos nos bancos e nas corretoras, um teto pra morar (de preferência quitado e seu) um plano de investimentos e prazos a cumprir, um seguro de vida (de preferência se você está bem no começo e alguém depende de você (pais ou filhos) e o fato de você ter uma chance de sonhar com um futuro melhor e trabalhar por ele. Ah Frugal, então você tá me dizendo que pra eu ser feliz eu tenho que ter casa, trabalho, poupar, ter reservas, investir e juntar dinheiro? Sim. Estou dizendo exatamente isso.
A felicidade é bem mais do que isso, isso é só um começo, um passo, a felicidade é uma sensação de plenitude e bem estar que você pode alcançar e estender aos seus demais, o que começa por exemplo com uma casa, hoje em dia me sinto feliz apenas por possuir o meu próprio ap quitado, apenas por algumas centenas de kilos de tijolo, cimento e areia no meu nome, pra eu entrar e fechar a porta e tomar um suco. Apenas isso. Se você acha que não, tente ver os olhos cansados das pessoas se ferrando de trabalhar para no fim do mês pagar apenas um aluguel e não sobrar muito dinheiro pra fechar o resto das contas. E sabe como eu sei disso? Por que me doía todo mês sacar 600 reais, dar todas aquelas notas (AQUELE MONTE DE DINHEIRO) pra mim naquela época e entregar exatamente na mão da dona do apartamento e ver ela sorrir e me entregar um recibo apenas, mesmo eu estando suado e fudido num calor infernal e ela nem oferecer um copo de água).
Então viver não é apenas suficiente, muita dor e muita desgraça podem lhe acontecer apenas por tomar decisões idiotas, por não lutar mais, por não querer mais, por não renunciar mais a certos prazeres, e lhe digo mais outra coisa, a dor chama mais dor, onde na sua vida alguma coisa vai se desorganizar, mais coisas se desorganizam em volta e assim vai. Incrivelmente meus pais sem educação nenhuma criaram a mim e aos meus irmãos de fato que pelo menos nós três conseguimos nos dar um pouco melhor na vida do que eles, fizemos cursos superior numa federal e conseguimos trabalhos mais ou menos bem remunerados nas iniciativas privada e pública, e daí a vida se arranja, a partir daí é com você. É difícil superar o ciclo de pobreza de uma geração pra outra, mas é possível.
É possível se dar melhor num concurso do que um filho de um casal da classe média alta, e é até bem comum, ainda mais nesses tempos de internet e onde você consegue melhorar de vida apenas usando um PC como falei no post anterior. Você não precisa viver uma vida vazia, melancólica, amarga, desperdiçada, sendo perdida aos poucos, não precisa se matar aos poucos, se drogar aos poucos, trair parceiros e amigos o tempo todo simplesmente por não ter base alguma de educação ou de dinheiro ou pelo menos de esperança de dar certo um dia.
Não ter dinheiro não é defeito, não ter educação não é defeito. O defeito é um só, é não reconhecer um erro,  ou os erros, o defeito é não mudar, é não lutar, é não sonhar e não se comportar melhor. O defeito é desistir da vida vivendo, morrendo aos poucos e arrastando mais pessoas ao buraco negro da sua existência. A boa vida não nos dá tantas escolhas, o correto mesmo, seja quem você for, onde ou como estiver, é estudar, ler, trabalhar, economizar, cuidar do corpo com alimentação razoável, evitar drogas, aportar, ser uma pessoa simples, trabalhar por um futuro melhor, por que no dia que ele chegar você nem vai perceber que já estará em outro planeta físico e mental, convivendo com pessoas maravilhosas e sendo uma pessoa bem melhor, em todos os sentidos e terá no mínimo uma boa morte e uma boa vida.
Não se entregue, VIVA, de verdade.
Frugal.

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